BFO simples e de fácil construção


Figura 1
 
O que é o SSB

Muitos conhecem perfeitamente os processos de modulação de sinais de rádio mais usados: no AM o que se faz é variar a intensidade (amplitude) do sinal de rádio, aplicando-lhe um sinal de áudio (voz por exemplo). Desta forma, o sinal que chega ao receptor contém as variações do sinal original de som que podem ser extraídas e reproduzidas num alto-falante.

Um dos inconvenientes do AM, além de ser sensível à interferências e ruídos, é o fato da portadora consumir metade da potência. A outra metade é subdividida pelas duas faixas laterais, ocupando uma faixa relativamente ampla do espectro exigindo assim boa potência dos transmissores para se ter um bom alcance. Metade da energia é gasta numa portadora que não oferece nada de útil para o ouvinte. A vantagem do processo é a simplicidade com que ele pode ser elaborado.

A segunda modalidade é o FM onde a frequência do sinal é variada com o som, de modo que se necessita de um circuito diferente (discriminador) para a separação da informação, mas mesmo assim é bastante usada pelas vantagens que apresenta.

A desvantagem ainda é a larga faixa do espectro ocupado o que torna este processo melhor para as frequências mais elevadas (VHF, UHF), e a vantagem está na sua imunidade ao ruído.

Um terceiro processo, muito usado nos serviços de telecomunicações, radioamadores, etc. é o denominado SSB (Single = única; Side = lateral; Band = faixa ou banda).

Quando um sinal de alta frequência é modulado ele não apenas sofre variações de intensidade com este sinal, como também tem sua frequência somada e subtraída deste sinal, num processo denominado batimento.

Assim, se modularmos um sinal de 1000 kHz (portadora) com um sinal de áudio de 1 kHz, aparecem dois sinais adicionais ao lado da portadora de 1 MHz: um que corresponde à diferença de frequências de 999 kHz e outro que corresponde à soma de 1001 kHz. Estes três sinais repartem a energia do transmissor, de modo que temos um desperdício da energia emitida e, além disso, a ocupação de uma faixa larga do espectro, de 999 a 1001 kHz.


O que o SSB faz então é suprimir a portadora e usar apenas uma das faixas ou bandas laterais.

Exemplo:


As variações deste processo são:

  • USB (Upper Side Band ou Banda Lateral Superior): apenas a faixa (banda) lateral mais alta é transmitida. A portadora e a banda lateral inferior são reinseridas no receptor;
  • LSB (Low Side Band ou Banda Lateral Inferior): somente a faixa lateral mais baixa é transmitida. A portadora e a faixa lateral superior são criadas no receptor;
  • Transmissão da USB e da portadora mais eficiente do que a convencional de AM, mas que pode ser ouvida nos receptores sem SSB;
  • Transmissão da LSB e da portadora;
  • Transmissão simultânea em USB e LSB: permite o funcionamento de duas emissões distintas na mesma frequência. O ouvinte comuta para USB ou LSB conforme o seu interesse.

A vantagem das duas primeiras variações é que se temos apenas uma faixa estreita transmitida (USB ou LSB), sua vulnerabilidade à propagação, ao desvanecimento (fading) e às interferências é menor. Por outro lado, podemos concentrar muito mais energia nesta faixa e com isso obter alcance muito maior com a mesma potência de um transmissor.

O problema, entretanto, é que para receber tais sinais e recuperar a modulação (áudio), o procedimento é um pouco mais complicado e os receptores comuns não recebem os sinais de SSB. Para decodificá-los é preciso reinserir a portadora que foi suprimida na modulação, pois sem ela o detector de AM não funciona.

O aparelho descrito neste post faz justamente isso.


O BFO  

BFO é a sigla de Beat Frequency Oscillator ou Oscilador de Frequência de Batimento (OFB). 

Sua função é gerar um sinal que, combinando com o sinal de SSB restabelece a portadora modulada em amplitude, mas na frequência intermediária (FI) do receptor, ou seja, em 455 kHz para os rádios comuns.

Com a reinserção da portadora, o detector que antes não conseguia retirar do sinal senão sons fanhosos (tipo voz do Pato Donald), passa a identificar o sinal de áudio que será reproduzido normalmente pelas etapas seguintes:


Nos receptores de comunicações, como os usados pelos radioamadores, o BFO é controlado por cristais e gera frequências precisas de reinserção: 456,4 kHz para a USB (Faixa Lateral Superior) e 453,6 kHz para a LSB (Faixa Lateral Inferior), isso num receptor que tenha FI de 455 kHz. Porém, a obtenção de cristais nestas frequências não é nada fácil! Mesmo um cristal de qualquer frequência que seja já não pode ser encontrado em qualquer esquina... 

O oscilador BFO deste post foi originalmente publicado no extinto Blog do Picco e que em vez do cristal é usado um ressonador cerâmico, muito mais barato, sendo usado em controles remotos de TVs, como mostra a foto abaixo:


O BFO das figuras 1 e 2 é um oscilador Colpitts cuja realimentação positiva é feita por derivação entre os capacitores C2 e C3, com o sinal retirado do emissor do transistor Q1 e reaplicado à base. A alimentação (B+) é feita com tensão de 3 a 12 volts que pode ser retirada do receptor. O interruptor (Power Switch) pode ser intercalado no B+ conforme mostra a figura 1 para poder desligar o BFO quando se deseja ouvir estações em AM. Neste circuito, o ressonador cerâmico X1 opera em sua frequência fundamental de 455 kHz. O ajuste fino para LSB ou USB é feito no botão de sintonia do rádio. 

Figura 2 - Esquema do BFO da figura 1 desenhado no Multisim.


O circuito foi adaptado no receptor Nissei ARF46 mostrado na foto abaixo.

O fio retirado da saída (OUT) do BFO é torcido com o pedaço de fio ligado no datector conforme mostra a foto abaixo:


Concluída e conferida a montagem, liga-se o receptor na faixa de ondas curtas (SW), sintoniza-se uma estação de SSB (por exemplo, na faixa de 40 metros - 7000 a 7300 kHz), em seguida ligue o BFO e ajusta-se vagarosamente o botão de sintonia do receptor até o sinal ficar inteligível.


LISTA DE MATERIAIS

Q1 - BC548 ou equivalente
X1 - Ressonador cerâmico 455 kHz de dois terminais (plástico laranja ou azul com marcação CSB455E ou similar)

Resistores
R1 - 47kΩ, 1/8 W
R2 - 1kΩ, 1/8 W

Capacitores
C1, C5 - 0.047μF ou 47nF (473) - cerâmico
C2, C3 - 1500pF ou 1.5nF (152) - cerâmico
C4 - 47pF ou 47p (47) - cerâmico


Bibliografia











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