Gilberto Affonso Penna, uma vida pelo Radioamadorismo


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Gilberto Penna em 1961 (ainda com pouco bigode...HI)

Gilberto Affonso Pennaconhecido como Gil, GAP, Dr. Gilberto ou Bigode por ostentar uma enorme bigodeira (HI) por mais de trinta anos, nasceu em Belo Horizonte no dia 29 de dezembro de 1916. Foi advogado, jornalista e radioamador. Filho do jurista Afonso Pena Júnior e neto do ex-presidente brasileiro Afonso Pena, Gilberto notabilizou-se nas áreas de publicações técnicas e de radioamadorismo. Reuniu suas grandes paixões, o jornalismo e a eletrônica, dirigindo por mais de cinquenta anos a editora Antenna Edições Técnicasresponsável pela publicação das revistas Antenna, Eletrônica Popular e Som.


Trocando a toga pelo rádio

Ele aprendeu eletrônica por conta própria, construía seus rádios e trabalhou em companhias de aviação, montando estações de rádio em aeroportos. Numa dessas viagens, em Goiás, conheceu Wanda Batista, com quem se casou. Incentivado por seu irmão Affonso Augusto Moreira Penna (Affonsinho), que já era radioamador e cujo indicativo era PY1FX, Gil obteve sua primeira licença em 9 de dezembro de 1936 como PY4CM, e às 15h40min do mesmo dia, fez o primeiro Chamado Geral (CQ), operando a estação do mano PY1FX nas Laranjeiras (zona sul do Rio) e foi atendido por Leonel (PY2HT), de São Paulo, bem como por Álvaro (PY2KD), da mesma cidade. Como o PY2HT foi o primeiro a ser ouvido, foi (de acordo com o costume de então) considerado seu padrinho; ao Álvaro coube a atribuição de assistente do "batismo". O comunicado (QSO) durou uma hora; pelo sistema de reportagem da época (QSA-R), deu ao Leonel QSA4, R5 e M9, dele recebendo 5-7-9; idênticas foram as reportagens dadas e recebidas de PY2KD. Nas férias escolares, Gilberto operava seu transmissor de telegrafia (CW) num sítio em Minas Gerais.

No ano seguinte publicou seu primeiro artigo técnico (Oscilador Jones) na extinta revista QTC, editada pela Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão (LABRE), da qual era associado. Criado no Rio de Janeiro, formou-se em Direito, passou a trabalhar como advogado no escritório de seu pai e mudou seu indicativo para PY1AFA. 

No ano de 1939, com o artigo Um Transmissor Liliputiano, composto por uma válvula osciladora 6L6 modulada em grade de blindagem por uma 76 e na retificação, uma 80, Gilberto estreou como colaborador da revista Antenna, especializada em rádio, eletrônica e eletricidade, fundada em 30 de abril de 1926 pelo engenheiro Elba Pinheiro Dias, sendo uma das primeiras no Brasil em publicações desse gênero. 

Em outubro do mesmo ano é lançada uma seção de Radioamadorismo, intitulada CQ. Muita matéria na nova seção, em que se inicia a série Quer montar sua PY?, escrita por Gilberto. Esta edição é decisiva para o futuro de Antenna, pois foi através da mesma que ele toma contato direto e se empolga com o jornalismo técnico. No mês seguinte começa a destacar-se o trabalho de PY4CM na seção radioamadorística, com muitos artigos, noticiários e reportagens. Em dezembro, a maior parte da revista é constituída de matérias radioamadorísticas, a cargo de Gilberto Penna.


No comando da revista Antenna

No início de 1941, Elba, muito atarefado na Reparação Geral dos Telégrafos (atual Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), passou o comando para Gilberto, que teve de sacrificar uma promissora carreira jurídica para assumir a direção da revista que já estava à beira da falência. Ele passou os dias de Carnaval estudando o modus operandi do negócio, organizando papéis e a contabilidade da empresa (livro-caixa). Dias depois, após acertar as contas com o dono do imóvel na Avenida Rio Branco, transferiu a editora para uma salinha ao lado do escritório de seu pai, na Travessa do Ouvidor, no centro do Rio. Ele fazia de tudo, até varria a redação. Nessa época, usava o pseudônimo F. B. Oldman em alguns de seus artigos.

Em maio do mesmo ano, Elba Dias transfere a propriedade da empresa para Gilberto Affonso Penna, em escritura realizada no 20º Ofício de Notas do Rio de Janeiro. O preço foi de onze contos de réis (11:000$000 = 11 milhões de réis!!!), sendo cinco contos no ato e os seis restantes representados por doze notas promissórias de 500$000 (quinhentos mil réis) cada, vencendo-se a primeira nota seis meses após a data da escritura.

Afim de ajudar o deficitário orçamento da editora, Gilberto criou o Serviço de Aquisição de Livros (posteriormente Departamento de Livros Técnicos e Lojas do Livro Eletrônico). Não dispondo de capital ou sequer de crédito para manter livros em estoque, a empresa agia como intermediária entre o leitor e as livrarias: ao receber um pedido, ia à livraria, comprava o livro e remetia-o para o leitor. O desconto obtido com a venda era para manter a revista.

Desesperado com a impossibilidade de ter as revistas prontas dentro do prazo em tipografias de terceiros, em 1946 Gilberto Penna decidiu arriscar-se à compra de uma oficina gráfica para Antenna. Dois anos depois, com a elevação do preço do papel importado, os custos amorteceram bastante os efeitos da campanha realizada com os leitores e o empréstimo bancário contraído para a compra da gráfica não pôde ser saldado com recursos próprios. Quem salvou a revista do grave problema financeiro foi o pai de GilbertoAfonso Pena Júnior, que assumiu os compromissos bancários da editora e gradualmente as saldou. 

A revista lançou em julho de 1950, dois meses antes do lançamento da televisão no Brasil, o artigo Explicando a Televisão de Gilberto Penna, e no mês seguinte, em parceria com a General Eletric, o suplemento Curso Prático GE de Televisão, traduzido e adaptado por ele, que mais tarde foi lançado em forma de livro, tornando-se um sucesso editorial.

No início de 1953, Gilberto foi eleito presidente da Associação Brasileira de Telecomunicações (TELECOM, atual TELEBRASIL), cargo que exerceu por um ano. Em outubro do mesmo ano, inaugurou a I Exposição Brasileira de Rádio, TV, Eletrônica e Telecomunicações, realizada no Rio.

Em 15 de maio de 1956, fundou o periódico Eletrônica Popular, inicialmente como suplemento da Antenna dedicado aos principiantes e hobbystas, uma versão brasileira da norte-americana Popular Electronics. Com o lançamento da seção CQ-Radioamadores em abril de 1967 após o encerramento da revista QTC e o fim do contrato com a Ziff-Davis Co. (editora da Poptronics), EP tornou-se a única revista especializada em Radioamadorismo e Faixa do Cidadão no Brasil. 

No ano de 1961, Gilberto inaugurou a nova sede da filial paulistana da editora, na Rua Vitória, perto da Rua Santa Ifigênia, onde funcionou até 1994, quando foi vendida para a extinta Litec. É reestruturado e ampliado o Departamento de Diagramas Comerciais (DDC), criado vinte anos antes, que passou a denominar-se Esquemateca Brasileira de Eletrónica - ESBREL (hoje extinta), que constituiu uma verdadeira prestação de serviços para o setor da Eletrónica, mantendo em seus arquivos esquemas e dados técnicos de dezenas de milhares de aparelhos eletrônicos, de todas as procedências e idades, desde os primórdios da indústria de rádio, nos anos 1920, cujas cópias xerográficas eram vendidas a preços acessíveis. No mesmo ano, ele foi nomeado pelo governo federal como membro do extinto CONTEL (Conselho Nacional de Telecomunicações), onde batalhou pela regulamentação da Faixa do Cidadão no país, o que ocorreu em janeiro de 1970. Já em 1966, a matriz carioca da editora foi transferida da Travessa do Ouvidor para a Avenida Marechal Floriano.

Gilberto Penna (BIGODON) em 1973

Em 1970, o Departamento de Assinaturas da editora inova seus métodos, passando a controlar e endereçar as revistas dos assinantes por meio de um computador da Burroughs.

A revista anuária Som surgiu em dezembro de 1975. Era uma coletânea de artigos da seção Revista do Som lançada pela Antenna em março de 1972. Tanto a seção quanto a revista abordavam artigos, lançamentos e avaliações de aparelhos e utensílios sonoros. Deixou de circular em 1982. Sob o comando de Gilberto, Antenna completou seu jubileu de ouro em abril de 1976.


Últimos anos

Com mais de 60 anos de idade, Gilberto aprendeu informática e informatizou a revista. Em janeiro de 1983, unificou as duas revistas, resultando no periódico Antenna-Eletrônica Popular, contendo assuntos de Radioamadorismo, Faixa do Cidadão e Eletrônica em um só exemplar. Gostava de viajar e em janeiro de 1997, fez sua última viagem, dirigindo seu carro rumo a Goiás. Morava nas Laranjeiras, todas as manhãs lia os jornais com os quatro cachorros ao seu lado e também operava no QTH (domicílio) adicional em Araruama, na Região dos Lagos fluminenses.



Gilberto Penna homenageado pela LABRE/RJ em 1991

Por motivo de saúde, Gilberto se afastou da editora em abril de 1996 (70º aniversário de Antenna), passou o comando aos seus familiares e a revista para a empresa Antenas Electril, anunciante de longa data, porém um ano depois, o periódico voltou para as mãos da família Penna e ele continuou escrevendo seu editorial Mensagem ao Leitor até pouco antes de se internar em agosto de 1997 para tratar de um câncer que operou seis anos antes e que havia voltado. Sua saúde piorou e faleceu em 5 de setembro do mesmo ano aos 80 anos, no Rio de Janeiro. Foi sepultado no Cemitério São João Batista. Assim desapareceu o baluarte e intransigente defensor do Radioamadorismo brasileiro, deixando uma lacuna irreperável.


"Parabéns, Alex, ficou nota 10. Bela homenagem ao Gilberto."

Cassiano Macedo


Bibliografia

  • Gilberto Affonso Penna, aos 80 anos. O Globo, 18 de setembro de 1997, pág 17
  • QSA and R Systems, Amateur Radio Handbook, ARRL, 1936, pág. 364
  • Antenna Edição Histórica Comemorativa 1926-1976
  • Antenna, 50 anos de eletrônica. O Globo, 30 de abril de 1976, pág. 10
  • Eletrônica Popular, janeiro de 1965
  • Ribeiro, Luiz Onofre. Grupo dos Veteranos, Eletrônica Popular, maio de 1968 (via PY3PZ)
  • Eletrônica Popular, novembro-dezembro de 1968
  • Ribeiro, Luiz Onofre. Grupo dos Veteranos, Eletrônica Popular, julho-agosto de 1970
  • Eletrônica Popular, janeiro-fevereiro de 1979
  • Ribeiro, Luiz Onofre. A prova real, Eletrônica Popular, março-abril de 1979
  • Léon, Jacques Alain. Py...lulas Históricas, Eletrônica Popular, maio-junho de 1979
  • Léon, Jacques Alain. Py...lulas Históricas, Eletrônica Popular, julho-agosto de 1979
  • Antenna-Eletrônica Popular, janeiro de 1983
  • Antenna-Eletrônica Popular, julho de 1990
  • Antenna-Eletrônica Popular, maio-junho de 1996
  • Antenna-Eletrônica Popular, janeiro-fevereiro de 1998
  • Antenna-Eletrônica Popular, janeiro-fevereiro de 1999
  • Yared, Marcelo. Sobre Antenna, Antenna, julho de 2020, pág. 3




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